Artigo
Há entre os futuros falecidos uma vontade enorme de justificar o motivo do teor do testamento. Uma forma de desabafo. Aquilo que não se pode dizer em vida. E, de preferência, que seja lido na frente da família e dos beneficiários, através de um juiz ou pelo testamenteiro, tal como se apresenta nos filmes americanos.
Para àquele que deixa patrimônio, de pouca ou muita monta, sabe o quanto aquilo que custou. “A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e dai afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”, já dizia Guimarães Rosa ao explicar que “o correr da vida embrulha tudo” e se embrulha. Nada é parecido com que se vê nas redes sociais. Noites de insônia, preocupações, tombos, decisões erradas, consequências nefastas. É um erguer de cabeça e o engolir o choro. É um sorriso disfarçado para evitar afastamento. Esta história que viver sozinho é bom, é desculpa para solidão. O bom mesmo é ter amigos, com quem dividir uma boa garrafa de vinho.
Mas voltando ao testamento. O fato é que a lei, ela mesma, determina como o moribundo e em que circunstâncias pode dispor de seu patrimônio.
O fato é que, tendo este patrimônio, certamente será lembrado por alguns bons anos, se o seu testamento for, por qualquer motivo, impugnado judicialmente por alguns dos herdeiros, principalmente se não houver o respeito à legítima.
Mas o fato é que, infelizmente, esta mesma lei não autoriza o tabelião de notas, àquele do cartório, deixar consignado no testamento as explicações do futuro morto sobre o motivo da forma da distribuição de seus bens e legados, deixando a sua disposição de ultima vontade ao rigor da lei.
Tantos conflitos poderiam deixar de existir se o futuro morto pudesse redigir, dentro de seu testamento público, os esclarecimentos necessários para fazer o que bem entender com seu patrimônio, mesmo que deixasse de fora herdeiros legítimos que nunca contribuíram com absolutamente nada e o pior, que muitas vezes, partiu-lhe o coração ou fez que vomitasse todas as suas angustias.
Pois é, o restante que fique nas frases criativas dos grandes poetas.