Artigo
Quando a doença acomete o corpo, sabe-se que também sequestra a sua alma, deixando o paciente desesperançado quanto às expectativas de sua vida e, se as tiver, de sua extensão, além das sequelas e limitações advindas daquele tratamento de saúde.
É preciso desmistificar a morte e aceitá-la como um fim em si mesmo, e consequentemente se preparar, já que ela não tem dia certo para acontecer.
Também é necessária a preparação para todos aqueles que estiverem a sua volta, inclusive seus parentes.
E, se é conhecendo a morte que se vive a vida, é necessária a preparação para tal fim não só em termos patrimoniais, como faz a maioria das pessoas, com elaboração de testamento, definindo a forma como seus bens serão distribuídos, como também a escolha do destino de seu corpo através das DAV – Diretivas Antecipadas de Vontade –, com a indicação da opção ou não pelo tratamento, a doação de tecidos e órgãos e, por que não dizer, a doação de seu próprio corpo para a ciência.
São temas sobre os quais vale a pena refletir.
O fim da vida é reconhecer que temos nossos limites. Viver ou sobreviver deve ser um diagnóstico que deve ser partilhado e estudado, para que não se estenda a vida a qualquer custo.
A morte irá chegar para todos.
Cedo ou tarde.
Aproveitando ou não a vida, a morte virá de qualquer forma. Em silêncio ou fazendo barulho, acidentalmente ou naturalmente. Sem dor ou com muito sofrimento. Se cada um tem a hora certa de morrer, que seja então uma boa morte.
É claro que morrer sem dor e sem sofrimento é o desejo da maioria das pessoas, mas pensar nesse processo da boa morte, através da elaboração de documentos próprios e aceitos juridicamente para tal fim, liberando os médicos e a família de uma decisão final difícil, não é uma atitude que a maioria das pessoas toma, até mesmo pelo próprio medo da morte.
Para aqueles que não o conhecem, estamos aqui mencionando um documento chamado de Escritura Pública de Diretivas Antecipadas de Vontade, elaborado no Cartório de Tabelionato de Notas.
Por meio desse documento, a pessoa que goza de boa saúde física e mental, já pensando no processo de morte, direciona a orientação que deve ser seguida em caso de ser acometida de uma doença grave ou de um acidente que possa lhe causar grande sofrimento, desnecessário para um prolongamento de sua vida.
Esse documento, que poucas pessoas fazem, deve ser compartilhado com a família e principalmente respeitado por ela, levando-se ao conhecimento do corpo clínico quando de eventual internação.